Com muito humor e impagável o artigo de Xico Sá na "Folha" desta sexta-feira acerca da conquista da copa do brasil pelo Spot Club do Recife, o Leão da Ilha.
O título do artigo é uma paródia inspirada no famoso filme de Gláuber Rocha: “Deus e o Bala na terra do sol”.
Leiam e gozem:
Amigo torcedor, amigo secador, Deus é fiel, mas, dessa vez, queixoso do mundo-cão, foi tirar uns dias de folga no Nordeste, onde, em um semáforo na praia do Pina, no Recife, revelou a Carlinhos Bala, como a um dos seus profetas do Velho Testamento, o que aconteceria na Ilha de Lost, também conhecida como do Retiro.“Filho, a princípio achei que era o Chico César, criatura de Catolé do Rocha, mas reparo que és tu mesmo, menino Bala, como andas, preparado para a final com o grande Corinthians?”, gracejou o Divino.“Senhor, agora vejo que estás mesmo onde menos a gente espera, como diz a Bíblia”, bradou o mestiço do pequeno David com Macunaíma.“Filho, prepare-se para viver dias de glória, mesmo com todo o meu respeito à fé cega dos admiráveis coríntios, bem-aventurados sejam os renegados do Sport que tanto penaram pelas Segundonas da vida, os alvinegros só começaram as suas peregrinações e são líderes absolutos.”“Senhor, vamos ganhar a Copa do Brasil, como na visão que tive no gol salvador na casa do São Paulo?” “Filho, como disse o bravo Juca Kfouri, tenho mais o que fazer nesse mundão sem porteiras, pero…”“Pero o quê, Senhor, até parece argentino com esse portunhol do Herrera, pelo amor dos meus filhinhos, precisamos do título para lavar a nossa honra, é unanimidade entre os cavaleiros das mesas-redondas que o Timão já pode colocar a faixa.”“Calma, na carta do secador São Paulo aos coríntios há outro rumo.” “Senhor, o sinal vai abrir. Perdoe-me, mas tenho pressa, pois Nelsinho não tolera atrasos na Ilha de Lost.”“Bem-aventurado seja o Baptista, que suportou, com resignação e sabedoria, todas as humilhações da queda para a Segundona…”“Mas, Senhor, vamos ganhar a Copa do Brasil? Perdoe minha objetividade burra!”, apelou o boleiro, enquanto uma criança passava o rodinho no vidro do seu Audi prata.“Tem comido cuscuz com ovo?!”, Deus tentou mudar o papo, citando um segredo da força do baixinho.“Cuscuz com bode também, Senhor, mas sem cachaça”, respondeu, mais relax, o herói do Sport.“Muito bem, era a comida dos homens fortes do deserto, viva os caprinos, incluindo os cordeiros, sagradas criaturas, mas um vinhozinho está permitido, pois nem Deus agüenta a sobriedade absoluta.”“Senhor, por que segura o sinal no vermelho tanto tempo? Creio que estamos conversando há horas.”“Assim será o jogo para os alvinegros, tudo trancado, não verão o caminho da rede após bem-sucedidas pescarias neste ano”, disse o Divino.“Embora tenha cerimônias de me meter nessas pelejas, os coríntios, quase sempre humildes, cometeram o pecado da soberba, pecado do meu apóstolo tricolor e ultimamente do Palmeiras do Luxa, sacas?”Além do sinal, belas nuvens negras da chuva e da fartura nordestina encobriam o caminho de Deus naquela hora, quando o menino Bala recebeu a iluminação do título e espalhou para a incrédula mídia.Ao longe, Deus cantou para o boleiro: “O bom menino Felipe, coitado, vai tomar um gol que pode parecer frango, mas, para quem sabe de futebol, será indefensável, espero que a amada fiel não o julgue, e que o caminho na Segundona seja leve!”.
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